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sábado, 1 de agosto de 2009

A DITADURA CIVIL- BREVES REFLEXÕES SOBRE UM TEMA DA GEOGRAFIA POLÍTICA

As novas gerações no Brasil, já há um tempo, estudam aquilo que foi designado como Ditadura Militar. A fase da “Ditadura Militar” inicia-se com a quebra da “ordem democrática” no dia 31 de março de 1964. Acompanhei, ainda menino, essa ruptura e a fase prévia ( o famoso ano de 1963). Urge agora estudar, também, as ditaduras civis que se instalaram no mundo, por ocasião do Século XX. O passado poderá ser a chave para o futuro, parafraseando, um pouco, o principio do Uniformitarismo.

A Ditadura Militar, no país, não escondia os seus propósitos. Eram explícitos e apregoados em todos os cantos, sem o menor pudor. Por exemplo: para ser prof. de uma universidade pública, o candidato deveria passar por uma análise detalhada de sua vida pregressa. Havia um órgão do Governo ASI- (Assessoria de Segurança Interna), que funcionava em todas as repartições públicas federais, estaduais e municipais. Cabia-lhe a tarefa de investigar a vida dos funcionários e sobretudo daqueles que iriam ocupar cargos públicos , fossem quem fossem. Qualquer tendência esquerdista do candidato, mesmo que numa fase bem juvenil de sua existência, era motivo suficiente para receber o temido “sinal vermelho” da ASI. E aí, adeus emprego!

Uma Ditadura Militar não esconde seus propósitos, repito. E os cidadãos sabem que estão sob o olhar de rapina de um “ Big Brother” presente em todos os cantos. Sabem que se discordarem, sem criticarem o Governo , serão processados e presos, em geral.

Uma Ditadura Civil, sobretudo quando está em sua fase embrionária, se instalando aos poucos, e com a admiração das massas populares, oculta os seus propósitos, daí o seu perigo. Deturpa dados. Usa a oratória de militantes ou pseudo líderes partidários para atingir seus fins. Mente. Emprega estatísticas manipuladas. Faz uso, secretamente, de critérios ideológicos para aprovar professores em concursos “públicos” etc. Para ela, como em qualquer regime de exceção, “os fins justificam sempre os meios”.

Mas há um aspecto dessa Ditadura Civil que apavora ainda mais, sobretudo aqueles que são livre-pensadores, que não se amoldam ao Pensamento Ùnico. que, por ser oculta, subterrânea, a Ditadura Civil persegue, mas nos meandros funcionais.. . Isso foi muito bem feito no início da Ditadura Fascista espanhola e também no começo do Governo de Mussolini, na Itália. E como se dá esse fato?

Muito simples e maquiavélico. Os intelectuais são os primeiros atingidos. Subitamente começam a ser afastados, boicotados nos locais de trabalho. Se é um professor universitário, passa a ser excluído da máquina administrativa da instituição. Se é um professor de Ensino Médio, passa a não ser aceito para ministrar aulas em certos colégios, sobretudo os colégios estatais. Se há uma reunião acadêmica ou um congresso científico, vetam-lhe a palavra ou sobre ele despejam uma fúria que espanta o observador atento. O maquiavelismo reside numa coisa absurda, que é o seguinte: quando o intelectual indaga: o que há contra a minha pessoa? A resposta é imediata: nada! Nada existe contra o senhor. Aparentemente, é verdade, nada existe contra a pessoa. Paradoxal e mentirosamente a pessoa é até “elogiada”.

Mas existe sim algo ! A pessoa pensa. A pessoa discorda. A pessoa é uma Zebra no meio de uma manada. Nas reuniões dos subterrâneos, quando os acordos prévios e as estratégias de reuniões são traçados, a ordem é explícita, mas secreta, contra o fulano ou a fulana que poderá ser um crítico, até em potencial, do sistema que está sendo montado. A ordem é : é preciso desmoralizá-lo, é necessário impedir que ele exponha seus pensamentos em sessões plenárias. Muitas vezes, a ordem é “agir com rigor”!

Essa mesma estratégia é usada pelas ditaduras militares, sendo que nestas a truculência , a violência são impressionantes, às vezes; naquela a violência é verbal, advinda dos argumentos de oradores que parecem membros de um coral afinado, uníssono, mas de música brega. O intelectual reprimido se irrita, perde as “estribeiras”, os neoditadores se fortalecem e até saem como vítimas. A massa , que assiste ao espetáculo, vibra... Foi isso que aconteceu, por exemplo, nos primórdios da fase do terror da Ditadura Stalinista, na Rússia. Os antigos bolcheviques eram humilhados em sessões plenárias do Partido. Um a um revezavam-se oradores, previamente escolhidos e devidamente instruídos, para desconstruir a figura do “reacionário comunista”. Intelectuais extraordinários, como, por exemplo, Bukharin, foram destruídos assim na Ditadura Civil Stalinista. Depois de humilhados e afastados dos cargos e do Partido, esses comunistas exemplares acabaram sendo fisicamente eliminados pelos “camaradas do Partido, por ocasião dos “Grandes Processos”. A massa aceitava sempre os pressupostos falaciosos do coral uníssono...

O mundo vive um momento delicadíssimo. Uma nova ordem política está sendo delineada em alguns países, que pode descambar para ditaduras civis, com invólucro novo, mas essência anacrônica. A hora é de reflexão profunda, mas não de silêncio. Uma matéria-prima excelente para estudo dos geógrafos políticos está diante de todos. Bastam a observação e as reflexões para a elaboração de teses de ponta sobre o tema.

( Lucivânio )

Lucio BR <luciobr2@yahoo.com.br>

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