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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Procuram-se professores

Em outubro de 1991 o Jornal El País, de Madrid, dedicou o Caderno “Educación” ao professor. A manchete de capa: “Una imagem rota: alarma en Europa ante la pérdida de identidad del profesorado y la crisis de vocaciones”.
Uma colega, na ocasião, enviou-me o jornal. A matéria principal das seis páginas do caderno, com depoimentos de órgãos oficiais, sindicatos, teóricos e professores, referia-se às campanhas publicitárias de revalorização do magistério diante do sério alarme dos países europeus frente à deterioração da imagem do professor e à decorrente deserção dos jovens dos cursos de magistério.

A crise estava tão séria que os órgãos oficiais estariam utilizando, pela primeira vez na história, agências de publicidade, outdoors e anúncios de televisão. Na França, cartazes de rua com professores e alunos felizes, de mãos dadas, serviam para anunciar concursos para o magistério com os dizeres: “Profissão Professor!” Uma campanha publicitária, em Madrid, utilizava o slogan: “Com a ajuda de minha professora, voarei com minhas próprias asas!” Os comentários sobre essa matéria davam destaque à idéia de que “não se improvisa um professor e que essa profissão exige ensino superior e formação continuada nas escolas”.

“Ensinar, que grande tarefa!” – era o tema do anúncio de televisão recém lançado em Andalucia, Espanha, mostrando professores alegres ensinando a sorridentes alunos. Na Inglaterra, por sua vez, aparecia uma manchete intitulada: “As seqüelas do thatcherismo”, tendo como subtítulo: “A dama de ferro se empenhou em culpar os professores por todos os males da juventude britânica”, justificando por aí a atual deserção dos jovens da carreira do magistério.

Dizia esta reportagem que, em Londres e em algumas cidades da Grã-Bretanha, a dramática falta de professores ameaçara o início do ano letivo de 1990 no ensino primário e secundário. Para completar o corpo docente desses graus de ensino fora necessário colocar anúncios publicitários em outros países, à procura de professores australianos, neozelandeses, holandeses e sul-africanos “Seja professor em Londres!” – havia sido o slogan da campanha.

Desde a leitura dessa reportagem, há 15 anos, venho imaginando quando surgirão cartazes semelhantes em nossas cidades, diante do descrédito, das críticas aos professores e da escassez de candidatos a cursos de pedagogia e licenciaturas em universidades do país


“Meu filho, professor? Deus me livre!
– dizem as famílias. Cinismo de muitas que deixam, cada vez mais, a educação de suas crianças e jovens sob inteira responsabilidade dos mesmos profissionais a quem tanto contestam. Que esperam (e muitas vezes exigem) que sejam compreensivos, pacientes, bondosos, humanos, competentes, alegres, comunicativos, honrados, imparciais, democráticos... Mas permanecem céticos ou indiferentes diante de suas reivindicações e questões profissionais.

Os professores brasileiros têm muita garra e ousadia em ousar ser, em continuar a ser professores. Viajo por muitos lugares. Não acredito no que vejo. Estradas esburacadas por onde circulam noite e dia; escolas e salas de aula sujas, atrolhadas de alunos, “maltrapilhas”; uma indescritível falta de recursos para dar conta de sua “grande tarefa de ensinar”. Em algumas ocasiões me falta o fôlego diante dos problemas que fazem parte do seu dia-a-dia. Para eles, todo dia.

Quem se preocupa, dentre os vários segmentos da sociedade, em revalorizar, em qualificar a “profissão professor” como o fizeram as nações que obtiveram êxito em suas reformas educativas?

É urgente recuperar-lhe a imagem, devolver-lhe o orgulho de uma profissão imprescindível a qualquer sociedade culta e democrática. Não estou falando apenas de maiores salários ou de melhor formação. Revalorização da imagem é questão de respeito e de dignidade.

O desânimo começa a tomar conta de muitos. Em pouco tempo de nada valerão, até mesmo, campanhas, melhores salários, prêmios de incentivo a esta profissão. Nossos netos já correm um sério risco de não ter escolas. Um risco ainda mais sério de não contar com bons professores.

Ninguém se surpreenda se cruzar por aí, em breve, com algum outdoor com os dizeres: “Procuram-se professores desesperadamente!”

Artigo escrito para a Coluna Pontos & Contrapontos da Revista Direcional, ano 2, edição 21, outubro/2006.

Artigo de Jussara Hoffmann.

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